quarta-feira, agosto 29, 2007

ARTIGO DE DIOGO MAINARDI

LULA DA AZAR

Lula foi a Nova York e resolveu o problema da fome no mundo. Muito bem, presidente. Em compensação, temo pelo que possa acontecer, de agora em diante, a Nova York. Se eu fosse o prefeito da cidade, decretaria urgentemente o estado de alerta. Uma catástrofe irá se abater sobre seus habitantes. Talvez seja uma canalhice revelar esse fato, mas Lula (toc-toc-toc) dá azar. Com assombrosa regularidade, desastres naturais acompanham a passagem de sua comitiva presidencial.

Veja só: em agosto, Lula (toc-toc-toc) visitou a República Dominicana e o Haiti. Em seguida, os dois países foram devastados pelo furacão Jeanne, que causou centenas de mortes. Em julho, o presidente passou por Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Poucas semanas depois, a região foi assolada por um incêndio florestal de grandes proporções. Ainda em julho, Lula (toc-toc-toc) viajou para Cabo Verde e Guiné-Bissau. Assim que ele foi embora, surgiram os primeiros sinais de uma gigantesca infestação de gafanhotos naquela parte da África. Em maio, o presidente foi à China. Nos dois meses seguintes, tufões castigaram o país, provocando mais de 600 mortes. Tempestades, chamas, mares de sangue e gafanhotos: não pretendo fazer ilações injuriosas, mas tudo lembra os flagelos do Apocalipse, com o angélico Luiz Gushiken a cargo das sete trombetas.

O último episódio dessa impressionante série de desastres naturais foi a enchente na continuação da Radial Leste, em São Paulo, um dia depois de oficialmente inaugurada por Lula (toc-toc-toc). Na ocasião, apesar de estar em viagem oficial paga pelos contribuintes, o presidente pediu votos para Marta Suplicy, candidata à reeleição em São Paulo. Considerando o rastro de destruição que costuma acompanhá-lo, a prefeita deve estar batendo na madeira. Quem deu o melhor argumento para votar contra Marta Suplicy foi a própria Marta Suplicy. Ela disse que sua eventual derrota teria o efeito de desencadear a corrida presidencial. Um dos aspectos mais deletérios do petismo é a falta de pudor no uso da máquina pública, como na inauguração da Radial Leste ou, pior ainda, na cooptação de parlamentares de outros partidos por meio de verbas e cargos. Uma derrota na prefeitura de São Paulo criaria a perspectiva de uma derrota de Lula (toc-toc-toc) nas próximas eleições presidenciais, enfraquecendo o governo e dando um pouco mais de coragem a quem tem o dever de denunciar os abusos do poder central, como magistrados e jornalistas.

O maior responsável pela desenvoltura de Lula (toc-toc-toc) é Fernando Henrique Cardoso (toc-toc-toc). A emenda constitucional que permitiu sua reeleição foi o mais profundo retrocesso democrático, desde os tempos da ditadura. No Brasil, o Estado controla mais de metade da economia. Isso dá aos governantes demasiado poder de barganha. A possibilidade de permanecer no cargo por oito anos os torna praticamente incontrastáveis. Sempre que se fala em reforma política, a principal preocupação de deputados e senadores é tomar nosso dinheiro e aumentar o financiamento público aos partidos. O primeiro ponto de uma reforma política deve ser outro: o fim da reeleição.

* artigo publicado na VEJA Online em 29/08

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