sexta-feira, julho 28, 2006

NELSON MOTTA

PROVÉRBIOS CONTEMPORÂNEOS

RIO DE JANEIRO - Além de ser o país da piada pronta, como diz o Zé Simão prenhe de razão, vivemos em uma terra onde se subverteu e se desmoralizou até mesmo provérbios universais consagrados pela sabedoria popular. A começar pelas medonhas galerias de sanguessugas e mensaleiros, desmentido cabal de que as aparências enganam.
Aqui, ladrão que julga ladrão dá cem anos de perdão, aqui é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que o STF condenar um parlamentar, aqui se faz e aqui não se paga. No Brasil, o ladrão faz a ocasião, geralmente com emendas parlamentares e contribuições de campanha.
Neste país, quem dá aos pobres (com dinheiro público) empresta ao eleitor, mais vale uma verba na mão do que duas emendas voando, a liberdade deles começa onde termina a nossa. Neste país ajeitadinho, contra os fatos não há argumentos, só bons advogados e lobistas, macacos velhos têm cumbucas em paraísos fiscais, dinheiro sujo não se lava em casa. São partidos, partidos, negócios à parte, a parte de cada um no negócio.
Como se tem visto e ouvido em rede nacional, mentir e coçar é só começar, quem rouba um conto esconde um ponto, devagar não se vai a lugar nenhum e CPI que ladra não morde. O segredo é a lama do negócio. No Brasil, tristezas não pagam dívidas de campanha, quando um burro fala os outros aplaudem, os cães ladram e a caravana é assaltada, quando um não quer dois não roubam, chamam mais gente.
Quem nunca comeu melado se lambuza em estatais, quem elegeu os Matheus (Rosinha e Garotinho) que os embale. Deve-se dar a Lula o que é de Deus e a César a Prefeitura do Rio, porque Deus e Lula, não necessariamente nessa ordem, dão a bolsa conforme o eleitor. Espero que quem o voto fere pelo voto seja ferido.

editorial de Nelson Motta publicado na Folha de São Paulo - 28/07/06

Nenhum comentário: