Mas afinal, o que uma coisa tem a ver com a outra?
Publicidade, Consumo e Meio Ambiente. Este foi o tema de um dos painéis apresentados no Intercom Sul (Encontro de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) que ocorreu durante este fim de semana em Guarapuava. O evento reuniu mais de mil e cem pessoas entre estudantes e profissionais de todo o país e até do exterior. Mas afinal, o que uma coisa tem a ver com a outra? O publicitário Ricardo Schrappe da Fuego Comunicação Criativa explica: “o crescimento econômico global nunca esteve tão estreitamente ligado à degradação do planeta”.
Segundo ele, trata-se de uma questão de consumo. “Consumo que é o combustível do capitalismo, que encontra na publicidade, claro, a sua faísca”, reflete o profissional. Mas o consumo existe porque existe demanda, e a demanda não pára de aumentar porque tem cada vez mais gente no mundo. Segundo dados do último relatório divulgado pela ONU e IBGE, a população mundial, que hoje é de 6,1 bilhões de pessoas, deverá chegar a 9,3 bilhões em 2050, um crescimento de 50% e que deverá ocorrer, principalmente, nos países em desenvolvimento, que concentrarão, em 2050, 85% da população mundial. Para atender toda essa gente, em suas necessidades mais básicas, é preciso produzir, antes de qualquer coisa, mais comida. Aí é preciso produzir mais roupa, mais casas, mais hospitais, mais escolas, mais ruas e assim por diante.
Para produzir mais é preciso usar mais matéria-prima, mais metal, mais carvão, mais carne, mais boi, mais pasto, mais energia, reduzindo assim as reservas naturais e conseqüentemente prejudicando o equilíbrio do ecossistema. Segundo Schrappe o problema nunca foi tão nítido e a culpa, obviamente, recai sobre a publicidade. “Ela tem culpa, mas também tem um papel fundamental para a sociedade que é o de disseminar informações úteis sobre produtos e serviços, orientar, gerar empregos, tornar as coisas mais baratas e as mídias mais independentes”. Schrappe também argumenta que na maioria das vezes a publicidade tem o papel de dirigir o consumo para o produto anunciado em detrimento de outro que não anunciou. “Nesses casos, o consumo existiria de qualquer maneira. Cabe à publicidade diferenciar pela comunicação produtos que são cada vez mais parecidos entre si”.
Desenvolvimento sustentável
Mas a complexidade da questão vai mais longe, afinal não é a publicidade que vem fazendo produtos cada vez mais descartáveis. Segundo Schrappe, “não é a publicidade que vem diminuindo o conteúdo dos produtos. E também não é a publicidade que infesta os lixões com bandejinhas de isopor usadas para expor carnes, frios, frutas e legumes nos supermercados”.
O publicitário explica que é esta reflexão que leva ao paradoxo pós-revolução industrial: “gente sem emprego é problema social. Gente com emprego é problema mundial”. Para ele, a única saída viável é através do desenvolvimento sustentável. Para que isto ocorra é preciso haver a conscientização de cada um até a mudança na cultura empresarial.
Ao redor do mundo, também proliferam-se movimentos que buscam equacionar o problema do crescimento econômico com a degradação do planeta. Um deles é o BAWB – Business as an Agent of World Benefit, ou “negócios em benefício do mundo”. Criado em Cleveland (EUA), em 2002, este movimento busca identificar e promover casos de empresas que conseguem ser lucrativas ao mesmo tempo em que trazem benefícios concretos para as comunidades em que atuam.
Em Curitiba, será realizado o Global Forum América Latina, entre os dias 18 e 20 de junho. O evento inédito vai reunir líderes empresariais, acadêmicos, membros do governo e da sociedade civil para discutir as mudanças necessárias na cultura e nos modelos de ensino das escolas de administração. O objetivo é garantir que a próxima geração de líderes já saia dos cursos de graduação, pós e mestrados, orientados e capacitados para o desenvolvimento sustentável.
BOX: De quem é a culpa?
O publicitário Ricardo Schrappe defende que não é a publicidade que vem diminuindo o conteúdo e o formato dos produtos, confira alguns exemplos:
- O requeijão cremoso já pesou 270gramas, passou para 250g. Hoje a maioria tem 220 ou 200g. Até pouco tempo atrás o copo de requeijão era de vidro, e podia ser reaproveitado. Hoje o copo é de plástico e tão pequeno que vai para o lixo, porém não foi a publicidade a responsável pela alteração.
- O tempo de decomposição do isopor no meio ambiente é indeterminado. As bandejinhas usadas para expor carnes, frios, frutas e legumes nos supermercados são feitas exatamente desse material. Pense nisso da próxima vez que for fazer compras.
- Não é a publicidade que põe amônia no cigarro para aumentar a ação viciante da nicotina. Mas ela ajudou a vender cigarro e a formar uma cultura tabagista, mostrando imagens de pessoas bonitas, saudáveis, ricas e felizes. A publicidade neste caso tem culpa por disseminar um produto excessivamente nocivo à saúde. A lei hoje proíbe propaganda de cigarro.
- Os produtos hoje são cada vez mais descartáveis. Via de regra, duram três dias além da garantia. Como consertar sai quase tão caro quanto comprar um novo, o antigo acaba indo para o lixo.
- Não é a publicidade que cria computadores mais potentes ou celulares mais modernos a cada três meses. Ela cria o desejo de compra. Quem precisa ou acha que precisa vai lá e compra e o velho ou seminovo muitas vezes acaba indo para o lixo.
Um comentário:
Olá é um grande prazer falar sobre essa discurssão. Sou estudante de Publicidade e propaganda, mas tenho formaçao Técnica em Meio Ambinte. Eu pensei em fazer Comunicão social justamente por isso, estamos vivendo em mundo puramente capitalista, sei que o desenvolvimento economico e tecnológico nos beneficia em muitas coisas.Porém temos que ser mais sustentáveis, responsáveis com os recursos naturais que dispomos,pois eles são finitos. E depende de nós que as futuras geraçoes também disponham do que usufruimos hoje. Enquanto publicitários nós temos essa grande missao, de transformar nossas propagandas, conscientizando os consumidores sobre a destinaçao final dos produtos.
Nywche Cardoso
Postar um comentário