segunda-feira, janeiro 21, 2008

Como Podemos Ficar Mais Criativos e InovadoreS

Fazer as coisas direito é cada vez mais pré-requisito para entrar em qualquer campo ou negócio. Fazer melhor não é o bastante.

É necessário aperfeiçoar-se o tempo todo – o que não é fácil e, em alguns casos, apresenta limitações naturais. A informação se tornou um produto de consumo, e um número maior de pessoas tem acesso aos níveis básicos de educação.

As pessoas gostam de pensar que são únicas, mas quando se candidatam a um emprego, descobrem que há dezenas ou centenas de outras pessoas com habilidades e competências similares e experiências valiosas.

Há uma demanda crescente em nossa sociedade por indivíduos e organizações criativos e inovadores. Em um mundo de proliferação de idéias, não de força física, as melhores recompensas são reservadas aos que se atrevem a pensar, agir e fazer as coisas de modo diferente.

Reverenciamos e pagamos tributos a artistas, cientistas e empresários que criam novas possibilidades e experiências. Uns podem até se tornar lendas vivas depois que suas criações dão frutos. Alguns cantores vão do anonimato à glória e excursionam pelo mundo em poucos anos; alguns cientistas viram manchete; e até mesmo empresários de sucesso passam a ser vistos como estrelas aclamadas pela sociedade.

Vendedores criativos, que sugerem novas estratégias de negociações ou elaboram propostas capazes de transformar todos em vencedores, são incrivelmente valiosos. A maioria dos cursos de negociação, entretanto, ensina habilidades limitadas, porque negociar requer anos de prática. Grandes comerciantes não seguem necessariamente todos os quatro, cinco ou mesmo sete Ps que aprendem na escola de negócios. Engenheiros muito talentosos aprendem tanto reformulando quanto participando de cursos e seminários. Vendedores criativos, grandes comerciantes e engenheiros talentosos são muito admirados em todos os lugares em que obtém grandes conquistas (apesar das diferenças). Sabemos que os admiramos e adoraríamos ter mais deles em nossas vidas e em nossas organizações. Mas, a maioria das organizações realmente faz algo para isso? Eu creio que não.

Quase todas as organizações atuais falam sobre a necessidade de ser mais inovador, bater a concorrência, surpreender os clientes e sair do “negócio de conveniência”. Porém, se você perguntar o que eles estão fazendo para que isto aconteça, dificilmente ouvirá algo relacionado ao aumento da criatividade e da inovação. Eles provavelmente dirão que estão gastando dinheiro com pesquisas de mercado, fornecendo um curso de criatividade único para empregados ou colocando mais pessoas em P&D.

Transformar uma organização em um espaço altamente inovador pede, em nossa opinião, a adoção de um conjunto completamente diferente de ações e o questionamento de conceitos fundamentais sobre como aprendemos, criamos e geramos valor. Discutiremos agora alguns dos valores sobre criatividade, aprendizagem e organizações inovadoras levantados nos últimos anos.


Mais risco

Sem risco, não há inovação. Simples assim. Se você não modificar o seu próprio perfil de risco ou o da sua organização, não fará a roda da inovação girar.

Isto é muito difícil de ser feito pela maioria das pessoas e organizações. Para a maior parte, a quebra de regras, os fracassos ou as tentativas não são recompensados. Há muitas histórias de pessoas que tentaram, fracassaram e foram demitidas. Este é um mundo agressivo. Mas você pode continuar sem arriscar? Histórias de grandes sucessos são freqüentemente precedidas por histórias de pessoas que arriscaram. Não estamos advogando que os riscos devem ser enfrentados de forma negligente. Empresas brilhantes reconhecem que este é um aspecto inerente à inovação e desenvolvem mecanismos de compartilhamento de risco para reduzir o impacto da perda.


Trabalho duro

Inovação é trabalho duro. Não é sentar em uma cadeira confortável e aguardar o “Eureka!”. Inovação é diferente de criatividade. Companhias se beneficiam de novos produtos, processos e modelos de negócios que realmente são implementados. Isto não quer dizer que, para haver inovação, é necessário trabalhar feito uma máquina. Grandes inovadores não aguardam que idéias simplesmente brotem: eles as procuram e são procurados por elas. Sim, inovadores procuram idéias e idéias procuram inovadores. E, quando se encontram, certificam-se de que sua proposta será materializada e que haverá compradores para ela. Isto é, de fato, trabalho duro!


Mais intervalos

Nossas mentes trabalham de maneira misteriosa. Ninguém sabe porque, mas a história da inovação está cheia de “Eurekas!” tidos por pessoas que estavam muito relaxadas. Trabalhe duro e encontre pessoas que também trabalhem duro, mas dê a elas um intervalo – ou, melhor ainda, deixe-as escolher quando fazer suas pausas. Esta é uma maneira garantida de obter idéias realmente novas.


Menos planos de negócios

Ao contrário da opinião popular, acreditamos piamente que planos de negócios freqüentemente atrasam a inovação. Se todo projeto tiver que ser completamente apoiado por fortes planos de negócios e previsões detalhadas de fluxo de caixa, o poder de inovação será enfraquecido e, em algum ponto, a organização começará a perder sua margem inovadora. Paralisia de análise é um fenômeno bem conhecido. Mas a forte inovação de negócios não precisa ser uma aventura louca. Inovadores são normalmente capazes de contar histórias convincentes que lhes rendam o apoio de investidores, colegas e empregados.


Mais tempo sozinho

A maioria das organizações não dá tempo para seus empregados pensarem. E eles também são constantemente bombardeados por e-mails, ligações de celular, pagers two-way e reuniões inúteis. Inovação é um fenômeno peculiar, igualmente abastecido pelo caos e pela paz. Pessoas diferentes certamente serão mais ou menos inovadoras em diferentes combinações de caos e paz. Organizações parecem, entretanto, mais propensas a fornecer o primeiro do que o último. Deixe seus empregados encontrarem seu próprio equilíbrio e respeite isso!


Muito mais idéias

Geradores de idéias produtivas são aqueles que, de vez em quando, produzem idéias superinovadoras. É como a leitura: quanto mais você lê, mais quer ler. Isto é bom, mas as organizações que vivem por resultados trimestrais podem suprimir a energia destes indivíduos dando sinais claros de que apenas as idéias muito boas merecem atenção. Mas como diabos você espera criar um ambiente de criação de idéias e uma cultura inovadora se as novas idéias não são respeitadas? Aqueles que se arriscaram a expressar ou defender uma nova idéia devem ser considerados os novos heróis das organizações pautadas pelo conhecimento. Boas ou ruins, novas idéias criam novos paradigmas, que quando combinados ou transformados, resultam em valor para os clientes.


Mais sentidos humanos

Os homens não evoluíram por milênios observando números e assistindo a apresentações de PowerPoint. Nós aprendemos usando todos os nossos sentidos e somos influenciados de diversas maneiras. Uma fragrância pode despertar conexões que o levam, por exemplo, de volta à sua infância, e isto combinado a qualquer desafio que você estiver enfrentando pode fazer surgir uma idéia completamente nova. Absurdo? Só se você pensar que a espécie humana evoluiu observando uma tela de computador. Ao refletir sobre inovação, é importante lançar mão de tudo que esteja à disposição, e nada é mais importante que a (livre) capacidade de nossos próprios sentidos humanos.


Perfis variados

Você está sempre contratando os mesmos tipos de pessoas? Mesmo perfil social, mesmas escolas, mesmas raízes étnicas e mesmas localidades? Você deve ter bons resultados, mas provavelmente está perdendo a oportunidade de ter novas perspectivas. É, sem dúvida, mais difícil empregar pessoas com perfis diferentes – e você deve se lembrar de momentos em que tentou algo diferente e não deu certo. Misture pessoas com mentalidades muito diferentes e você certamente terá um cenário bombástico, pois combinar diferentes perfis requer muita maturidade e um reconhecimento claro de que haverá transtornos.

Porém, qualquer especialista em criatividade lhe dirá que este é um risco que vale a pena correr.


Mais questionamento

Quais são as teorias e paradigmas de seu negócio? Há verdades aceitáveis sobre o que funciona e o que não funciona em seu negócio e indústria? Os vendedores devem ser comissionados? É difícil vender diretamente para particulares? Não há mercado para seu produto em países em desenvolvimento? Os custos não podem ser divididos? As pessoas não vão pagar por música? O arrendamento nunca funcionará nesta indústria? Pessoas de baixa renda sempre colocarão o preço em primeiro lugar? A história está cheia de exemplos de organizações que quebraram todas as regras e reinventaram seu mercado (ex: Starbucks, Apple, Jetblue, etc.). Então, não seria importante ter reuniões periódicas para questionar os paradigmas de seu próprio negócio? Algumas organizações brilhantes fazem exatamente isto: elas reúnem regularmente suas melhores cabeças com o objetivo de confrontar as pedras fundamentais da empresa. Solicite a seus profissionais que ajam como se tivessem acabado de ser contratos e que não possuíssem os recursos que estão acostumados. O que eles fariam?


Mais viagens

Saia fora! Vá ver o mundo! Com que freqüência isto é dito aos empregados? Quanto você gasta encorajando-os a alçarem vôo? Como eles irão ter idéias diferentes se todos os dias andam pelas mesmas ruas, comem nos mesmos lugares, falam com as mesmas pessoas e se relacionam com os mesmos parceiros de negócio? O interessante é que as organizações que precisam muito de idéias se sentem mais confortáveis em gastar dinheiro em cursos nos quais seus empregados não aprenderão nada realmente novo, mas poderão ver como o negócio funciona em outro lugar do mundo: em mercados, regiões ou indústrias diferentes. Não nos sentimos revigorados quando viajamos nas férias? Por que esperar?


Mais tempo (de qualidade) juntos

Correria, correria e correria! Quanto tempo seu pessoal fica junto? Você dá a eles a possibilidade ou mesmo os incentiva a tagarelar às vezes? Acredite ou não, alguns dos grandes inovadores fazem exatamente isso. Pegam seus melhores empregados, algumas vezes até mesmo executivos seniores, os liberam de suas agendas e listas de “afazeres” para que conversem uns com os outros. Isto não é bom apenas nos casamentos, mas nos negócios também. Deixe as pessoas se entrosarem de maneira mais profunda e elas irão realmente construir coisas juntas em vez de competirem por brilho individual!


Mais rotinas criativas

Sim, inovação também precisa de rotina. Um certo número de autores e artistas são conhecidos por seguirem rotinas metódicas e muito específicas para terem inspiração e produzirem mais. Organizações são cheias de rotinas. A maioria, entretanto, não tem nada a ver com o incentivo à inovação. Ao contrário, elas estão lá para mostrar que as pessoas aprendem a viver sob normas e procedimentos.


Maior uso de cenários

Quão à frente e como você vê o seu futuro? Sua organização sempre irá vender os mesmos produtos e proposições de valor para os mesmos clientes? E daqui a dez anos? Com certeza, ninguém pode prever o futuro, mas o mero fato de você incentivar as pessoas a imaginá-lo de modo diferente as ajuda a desenvolver um senso crítico capaz de mudar completamente seu negócio. Outra opção é realizar uma regressão linear e olhar o futuro de acordo com o passado. Quantas indústrias se desenvolveram desta forma nos últimos três, cinco ou dez anos?


Mais encontros com os clientes

Poucas idéias visionárias emergem de planilhas eletrônicas, apresentações de PowerPoint e relatórios. Um aspecto interessante dos negócios e das hierarquias é que, conforme as pessoas são promovidas, perdem o contato com os clientes. A mesma coisa acontece com bons pesquisadores que se tornam gerentes e passam a gastar a maior parte de seu tempo preenchendo relatórios, gerenciando recursos ou participando de funções corporativas. Este problema (perder um bom pesquisador e ganhar um mau gerente) é bem conhecido e amplamente discutido na literatura de gerenciamento. Inovação, entretanto, não é privilégio ou responsabilidade de cientistas. Porém, as organizações burocráticas têm um sistema funcional desenvolvido para se livrar de inovadores e isolá-los ou sufocá-los com relatórios e telas de computador.


Melhores ambientes de trabalho

Por que ambientes “criativos” devem se restringir a agências de propaganda e empresas semelhantes? Do que as pessoas têm medo? Os tipos criativos são menos profissionais? Eles trabalham menos? Por que as idéias de ordem, perfeição e linhas retas dominam a maioria dos espaços de escritório? Isso tem que ser assim? As empresas do Vale do Silício em geral se preocupam em criar ambientes de trabalho que encorajem a inovação. Na França, muitas empresas de conhecimento intensivo se mudaram para locais esplêndidos próximos aos Alpes. No Japão, empresas líderes nas indústrias automotiva, farmacêutica e eletrônica estão seguindo a receita do Dr. Nonaka e investindo dinheiro na construção de administrações empresariais criativas. Ou seja, em contextos propícios à geração de conhecimento.


Mais pessoas apaixonadas

Meu Deus! Como alguém pode pensar em inovação sem contar com pessoas que amam o que fazem? O ato da criação exige mais que comprometimento, exige total envolvimento. Alguém pode se comprometer com metas, bônus e até mesmo com seus colegas. Porém, infelizmente, a inovação não é um domínio de “bons soldados”; é o campo das pessoas com desejo ardente de deixar sua marca.

Um material inovador nunca é impessoal. Como os artistas, inovadores corporativos tentarão deixar suas marcas pessoais em seus produtos em qualquer lugar e a qualquer momento possível.

O que há de errado nisso?

Trate as pessoas como indivíduos, não como “recursos” genéricos. No final, o ato da criação depende das pessoas; e, por isso, não pode ser automatizado.


Maior procura pelo belo

O cultivo da estética está relacionado à inovação. Até mesmo um plano de negócios pode ser bonito. De fato, a humanidade normalmente fica temerosa diante de inovações verdadeiras. Cientistas famosos, tais como James Watson e Francis Crick, contam que realizaram suas descobertas quando escolheram as soluções que eram belas. Nenhuma companhia inovadora despreza o belo. A beleza está no cuidado com os detalhes, tanto na embalagem quanto no conteúdo. Isso dá um prazer enorme. As pessoas são inspiradas pela beleza. Se a inovação é realmente parte de sua estratégia competitiva, comece a prestar atenção no belo. Seus empregados, clientes, fornecedores e sociedade também perceberão isto.


Ouvir mais atentamente

Se muitas inovações surgem da combinação entre novas e velhas idéias ou novos e antigos conhecimentos, então é evidente que as pessoas com maior capacidade de observação e com habilidade de ouvir têm vantagem no desenvolvimento de idéias. O mesmo se aplica às companhias. Como uma organização observa se seu ambiente está relacionado à sua capacidade de inovação? Ela pergunta a si mesma: as pessoas de departamentos diferentes realmente prestam atenção umas nas outras? Há rotinas em vigência que as estimulam a ouvirem umas às outras? As pessoas estão capacitadas a ouvir atentamente? As pessoas mais introvertidas encontram espaço para expressarem suas idéias? Se você ouvir, poderá encontrar oportunidades de inovação bem perto do escritório.


Mais improvisos

O inovador brinca com os objetos que imagina.

Deste modo, as companhias devem oferecer ao seu pessoal meios para experimentar e brincar com diferentes conceitos desde cedo. Não pegue um conceito no estágio mais detalhado do projeto sem antes convidar seus colegas, fornecedores e clientes a observá-los. Inovadores são normalmente colecionadores. Escritores possuem muitos livros; engenheiros possuem garagens interessantes; excelentes comerciantes são ansiosos consumidores da mídia e assim por diante. A realidade nunca está na mente o objeto da criação; está na dualidade do consciente e do inconsciente. Duas pessoas nunca vêem exatamente a mesma coisa.


Mais dor

Inovadores verdadeiros falam sobre o incrível sofrimento pelo qual passam antes de encontrar uma solução. As organizações são tão diferentes assim? De fato, apenas os indivíduos sentem dor, mas se todas as decisões relacionadas aos projetos de inovação e financiamento estiverem fáceis, isto é um bom indicativo de que os desafios não estão à altura para impulsionarem inovações. Muitos produtos inovadores são resultado de anos de detalhamento de hipóteses, pesquisas e testes ou de empreendimentos alternativos, com rumos inesperados.


Conclusão

Há mais coisas a se fazer para tornar nossas empresas e nós mesmos mais criativos? Claro! Os pontos acima são um guia completo? Certamente não, mas são um bom começo. Se você disser que inovação é o reduto da competência, pergunte a si mesmo o que está fazendo por você mesmo e para sua organização? Esperamos que este artigo o coloque na direção certa.


por Dr. José Cláudio Terra




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